Curso em 4 aulas

O curso é uma viagem no tempo, aos primórdios do cinema. Um retorno às origens, no tempo em que as imagens em movimento se popularizaram em telas improvisadas, penduradas em muitos diferentes lugares, exceto na própria sala de cinema, espaço que naquele tempo ainda não existia. O termo “cinema das atrações”, cunhado pelo historiador norte-americano Tom Gunning, se refere justamente a esse período em que o cinema dava seus primeiros passos, explorado por diferentes tipos de pessoas e linguagens. Os filmes de seus autores são propriamente experiências: de narrativas, formatos e estéticas que constituem uma curiosa e insólita filmografia. Lumiére, Méliès, Thomas Edison são os personagens do curso que se juntam aos estúdios Gaumont, Pathé Frères, American Biographi Company para formar um painel possível das origens do cinema.

Ementa

Aula 01 – Pré-cinema

“O sonho de projetar numa parede ou numa tela imagens luminosas e animadas é, na história da humanidade, quase tão antigo quanto voar” é o que afirma o historiador francês Laurent Mannoni. Ao longo de séculos inventos, idéias e dispositivos foram criados e convergindo para delinear os princípios que moldariam tecnicamente o cinema. Câmera obscura, lanterna mágica, panorama, objetos ópticos, cinéticos e a  fotografia emprestaram seus recursos e linguagem para o cinema. O estudo dessas mídias é fundamental para o entendimento do primeiro cinema.

Aula 02 – Irmãos Lumiére e Edison Company Films

Além de serem os inventores do Cinématographe, os irmãos Lumiére eram donos de uma respaldada empresa que produzia chapas fotográficas com mais de 300 funcionários. Por contarem com recursos financeiros e experiência corporativa conseguiram, em pouco tempo, promover e difundir seu invento enviando para os 4 quatro cantos do mundo fotógrafos responsáveis pela coleta das primeiras imagens em movimento de registros de cidades e paisagens que se tem notícia.

Aula 03 – Thomas Edison

Thomas Edison é considerado pelos americanos como o inventor das motion pictures. Seuo extraordinário inventor norte-americano, acreditou que a visualização de imagens em movimento poderia ser mais rentável se fosse uma experiência solitária. Assim criou alguns anos antes de seu concorrente francês o “kinetoscópio” um dispositivo de que se observava imagens em movimento a partir de um orifício tal qual um buraco de fechadura. Quando percebeu o fascínio que as imagens projetadas exerciam sobre o público passou a atuar como um grande realizador cinematográfico

Aula 04 – Georgé Méliès e Crazy Cinematographie

A período do Cinema das Atrações não era dominado somente por empresas e empresários. Mas um sem número de artistas, pequenos realizadores, curiosos, pesquisadores ou excêntricos deram vida a uma cinematografia tão ampla quanto heterogênea. Filmes científicos, registros de catástrofes, de paisagens, de viagem, os travelogs, filmes teatralizados, acrobáticos, publicitários, pornográficos são compilados nesta última aula batizada de Crazy Cinematographie. Com destaque deste recorte, o magnífica obra de George Méliès, o presdigitador francês cujos filmes amplamente conhecidos continuam a encantar por sua inventividade e autenticidade.

Sobre o palestrante

Raimo Benedetti é videoartista, montador de filmes cinematográficos e professor. Dedica-se ao estudo da arqueologia das mídias e criou em 2010 o curso Pré-Cinema. Cinema das Atrações também é o nome de sua performance em live cinema criado em 2013.  É autor do livro Entre Pássaros e Cavalos – Muybridge, Marey e o pré-cinema (SESI-SP Editora)

Informações complementares

Antes de virar uma forma de arte autônoma, o cinema era apenas uma atração que “reunia, na sua base de celulóide, varias possibilidades de espetáculos derivados das formas populares de cultura, como o circo, o  carnaval, a  pantomima,  a  prestidigitação  a lanterna mágica” (Machado, 2005).  O curioso e obscuro período da história do cinema que abrange seus 10 primeiros anos de existência tem ultimamente chamado a atenção da historiografia cinematográfica. Narrativas curtas, inventividade, filmagens caseiras e efeitos especiais são alguns dos atributos que sobreviveram ao longo dos anos e que atualmente encontra estreita relação com a produção audiovisual veiculada na internet, nos filmes experimentais ou nas artes visuais. Alguns foram os nomes cunhados para definir este período (1895-1905) desde o pejorativo Cinema Primitivo, passando por outras denominações mais precisas como Primeiro Cinema e o Cinema das Atrações. Este último olha para o cinema com sua  “habilidade de maravilhar, espantar e atrair o espectador, cuja a aparição em si já era um acontecimento.”

 Você sabia que o cinema não foi inventado pelos irmãos Lumière?

Quando finalmente Max e Emil Skladanowsky conseguiram organizar uma apresentação pública de seu novo e aguardado invento, o bioscópio,  um projetor de imagens capaz de “reproduzir a vida em todos os seus detalhes naturais”, mal sabiam que seu sucesso seria apagado pela história. A supremacia do cinematographo, invento dos irmãos Lumière, apresentado ao público cerca de apenas um mês depois da demonstração de seu rival alemão,  fez com que a fama de “inventores” do cinema recaísse sobre os empresários franceses. 

Nos dias de hoje

Assistir aos filmes do período do Cinema das Atrações com os olhos de hoje é uma tarefa um tanto complicada. Nossa cultura cinematográfica foi fortemente moldada pelo cinema narrativo, expresso por uma complexa linguagem e visto dentro de uma sala escura o que nos leva a entender os pequenos filmes do early cinema como peças estranhas, ingênuas e imaturas. A palestra “Cinema das Atrações” pretende trazer ao público o prazer de ver esses filmes respaldados por um vasto material de apoio entre fotos, vídeos e demais documentações. Trazendo para perto de si o contexto da Belle Époque, da revolução industrial, das feiras universais, da expansão urbana enfim da consolidação do mundo moderno (o qual o cinema é seu filho autêntico) pretende-se reavaliar a preciosa produção visual do período através da visualização de filmes da França, Estados Unidos, Inglaterra, Espanha exclusivamente sonorizados pelo palestrante para este fim.

Clique na imagem abaixo para ver matéria publicada em 2015

Filmografia

Clique na imagem abaixo para ler entrevista dada para Ricardo Calil

YouTube Atractions

O termo youtube atractions surge pela historiadora Teresa Rizzo da Universidade de Sidney para juntar duas pontas da história que surpreendentemente têm muita coisa em comum. Assim como no período do Cinema das Atrações no YouTube se pode assistir fartamente a filmes cuja maior virtude está em seu potencial de atrair visualizações. A baixa minutagem, o poder de síntese, a liberdade de criação e a pirataria são outros elementos que se podem ver em ambos períodos. Além disso, o exibicionismo e voyerismo hoje tão difundido nas redes sócias parecem releituras dos primeiros filmes do gênero “buraco de fechadura” que mostravam picantes imagens e situações de espionagem desde os tempos do kinestoscópio.

Quando surgiram os primeiros filmes na história, suas exibições ocorriam em variados lugares mas foram nos espetáculos de vaudeville que encontraram seu espaço mais frequente e vigoroso. O ambiente denso, noturno e ruidoso das casas de espetáculo recebia verdadeiras performances cinematográficas passo que ali dividiam o palco junto com cenas de dança, teatro e magia em formações que hoje chamaríamos de interdisciplinares.

Neste curso, o participante poderá entrar em contato com esta valiosa produção histórica através da visualização exaustiva de um grande número de filmes característicos do Cinema das Atrações respaldados por um vasto material de apoio entre fotos, vídeos e demais documentações. O curso pretende jogar luz nesta produção ainda pouco estudada no cinema.